Globo de Ouro — Palco Viva reedita o clássico programa e traz hits antigos para o presente

Gravações, feitas no Espaço Tom Jobim, ecoam a ideia de ressignificação do passado que cerca toda a concepção da atração

RIO — Cena 1. A introdução conhecida anuncia “Pais e filhos”, da Legião Urbana. Sorridente, Thiaguinho canta versos como “Ela se jogou da janela do quinto andar”. E sensualiza, apontando para a plateia com um olhar insinuante, no momento da canção em que o menino pergunta aos pais: “Posso dormir aqui com vocês?”.

Cena 2. Baby do Brasil mostra seu clássico “Menino do Rio”, num registro bem próximo do original. Na repetição da letra, faz uma interpretação bem mais livre, mais identificada com seu estilo hoje. Passado e presente bem marcados — e em diálogo.

Cena 3. Anitta canta “O amor e o poder”, sucesso de Rosana. Diferentemente das muitas vezes em que cantores se aproximam da música, ela deixa de lado qualquer referência à paródia do brega. É apenas uma cantora pop contemporânea, revelando uma canção poderosa, que poderia fazer sucesso se fosse lançada hoje.

As cenas foram registradas nas primeiras gravações do “Globo de Ouro — Palco Viva” (reedição que o canal Viva prepara do clássico programa da TV Globo), feitas no Espaço Tom Jobim, na semana passada. E elas ecoam — direta ou indiretamente — a ideia de ressignificação do passado que cerca toda a concepção do programa.

— A missão do canal é trazer o conteúdo antigo que gera memória afetiva, mas principalmente ressignificar esse conteúdo, dar a ele um sentido contemporâneo — explica Leticia Muhana, diretora do Viva e idealizadora da nova versão. — Ele foi um programa fundamental para a música brasileira e para os musicais da TV brasileira.

Patrícia Guimarães, diretora da nova edição, detalha:

— Queríamos tirar a coisa de rir das ombreiras e dos cabelos do “Globo de Ouro”, a carga da moda da década, o datado (o programa, que foi exibido em diversos formatos entre 1972 e 1990, teve seu auge na década de 1980). E lembrar que, na época, ele era o glamour, um selo de qualidade para os artistas.

DEZ EPISÓDIOS

A ideia era seguir o que o canal fez com “Sai de baixo” em 2013, quando reeditou o programa, gravando episódios inéditos. O sucesso da iniciativa fez com que eles pensassem qual seria o próximo. Não foi difícil chegar ao “Globo de Ouro”, que mantém boa repercussão desde o início de sua reexibição, em 2012.

Com um cenário simples e eficiente, com globos transparentes suspensos e fundo neutro (proporcionando efeitos diferentes conforme a luz), o programa terá dez episódios, com estreia em 17 de novembro, no Viva. Pelo palco passarão artistas que fizeram a história do programa, com hits da época ou mais recentes, e artistas mais novos, homenageando os sucessos antigos e mostrando os seus próprios. Alguns nem assistiram ao programa original, como Thiaguinho e Anitta.

— Só vi na reprise — diz o cantor, que, além de apresentar sua “Caraca, muleke!”, homenageou Renato Russo, com “Pais e filhos” e “Será”. — Meus pais eram fãs de Legião. Lembro que lá em casa tinha um disco cinza, “As quatro estações”. Eu era viciado em pagode quando criança, só fui ouvir outras coisas depois.

Anitta — que, além do sucesso de Rosana, cantou “Show das poderosas” — tem um olhar sobre o “Globo de Ouro” orientado por seu faro pop:

— É interessante ver como funcionava o sucesso. A linguagem, o tempo da música, as palavras eram outros. “O amor e o poder” vai, tem refrão, volta… Hoje uma música não pode ter aquele tamanho, tem que ser mais direta, dois minutos e meio, três, senão não toca no rádio. Tem que ser mais fácil para a galera pegar.

O elenco do programa — como ocorria no original — dá espaço para o mais direto e o mais refinado. Ele inclui encontros como Zé Ramalho com Nação Zumbi e Ed Motta com Daniel Jobim, além de atrações como A Cor do Som, Zeca Pagodinho, Alcione, Hyldon, Benito di Paula, Angélica, Xuxa, Kátia, Guilherme Arantes, Gaby Amarantos, Valesca Popozuda, Fafá de Belém, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Diogo Nogueira e Sidney Magal.

Hyldon Globo de Ouro

— O grande protagonista é o hit — diz Berna Ceppas, produtor musical do projeto, que montou a banda que acompanha os músicos. — Tentamos manter o traço original dos arranjos. Às vezes, os músicos propunham algo até mais cool, mas eu dizia: “Não, vamos manter o ar do hit”.

Baby do Brasil resume o espírito de revisita ao clássico com uma perspectiva de hoje que norteia o programa:

— Foi gostoso ter a Baby do passado de volta, agora no futuro. Diz a Bíblia que não há nada de novo debaixo do sol. Mas a gente está sempre reinventando e recriando, não é?

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