Hyldon balança entre os ‘grooves’ e as baladas de ‘As coisas simples da vida’ (G1)

hyldon-as-coisas-simples-da-vidaAos 65 anos de vida e 51 de carreira, iniciada em 1965 com a formação da banda Os Abelhas, Hyldon ainda permanece associado à vigorosa obra autoral lançada pelo artista ao longo da década de 1970 – em especial ao antológico álbum Na rua, na chuva, na fazenda (1975), marco da discografia do soul brasileiro. Às vezes, o próprio Hyldon colabora para reforçar o link, como no ano passado, quando lançou o dispensável Na rua, na chuva, na fazenda – A origem (2015), remake no formato de voz & violão do álbum que lançara há então 40 anos. Contudo, o cantor, compositor e músico baiano também tem feito esforços louváveis para renovar o repertório autoral, gravando álbuns de música inéditas como o recém-editado As coisas simples da vida (DPA Discos / Deck).
 
Disco que exalta o amor, a natureza e a família, às vezes com trivialidade como a exposta nos versos que descrevem o poder fulminante da paixão em O raio do amor (Hyldon), As coisas simples da vida balança entre baladas melodiosas e temas calcados no groove, caso de Todo mundo é dono da rua (Hyldon), cujo coro remete ao fervor dos spirituals norte-americanos e cujo suingue ecoa a ginga do rhythm and blues, um dos gêneros que originou a soul music.
 
As coisas simples da vida não é tão revigorante quanto Romances urbanos (2013), álbum em que Hyldon abriu parcerias com artistas de diversos estilos e gerações, mas tampouco reedita o desânimo autoral de Soul brasileiro (2008), CD que se sustentou mais na (boa) produção do que nas músicas. Há em As coisas simples da vida ao menos duas boas baladas, Depois do inverno e Música bonita, ambas criadas por Hyldon em parceria com o pianista e compositor Luiz Otávio. Música bonita ganha o providencial reforço vocal dos músicos Arthur de Palla (baixo), Guinho Tavares (guitarras e violões) e Márcio Pombo (piano, órgão e sintetizadores), integrantes da banda responsável pelo azeitado acabamento instrumental do disco produzido e idealizado pelo próprio Hyldon para o próprio selo, DPA Discos.
 
Seguindo a linha do groove, Um trem para Bangu (Hyldon) se equilibra bem no trilho periférico do black Rio enquanto Sábado passado – parceria de Hyldon com Alex Moreira e Cris Delanno, integrantes do grupo carioca BossaCucaNova – é samba com mais soul do que bossa. Em que pesem temas pouco inspirados, caso sobretudo de Papai mamãe (Hyldon), o álbum As coisas simples da vida se sustenta pelo conceito das letras.
 
Com música-título que expõe parceria do artista com Alex Malheiros (baixista do grupo Azymuth), o disco destila afeto nos versos de Nosso lar é onde nosso amor morar (Hyldon e Luiz Otávio), trunfo de disco valorizado pelo criativo projeto gráfico de Flavio Albino. Com arte criada por Albino a partir de foto de Daryan Dornelles, a capa de As coisas simples da vida justifica por si só a já disponível edição do álbum em formato de vinil. É uma capa simples, mas de concepção criativa, assim como as melhores músicas deste álbum que, entre altos e baixos, renova o repertório do resistente Hyldon. (Cotação: * * *)
 
Por Mauro Ferreira
Fonte: G1
Link: http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/hyldon-balanca-entre-os-grooves-e-baladas-de-coisas-simples-da-vida.html