Hyldon

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Partipação de Hyldon em ”Trato”, faixa do novo CD de Arnaldo Antunes (O Tempo)

 

“Disco” sintetiza trajetória musical de Arnaldo Antunes.

O prosaico e sintético título do novo álbum de Arnaldo Antunes, “Disco”, diz muito sobre o conteúdo. No texto de apresentação da obra, o ex-Titãs explica que o nome foi escolhido “pelo desejo de afirmar a importância do disco como algo que caracteriza uma fase da obra de um artista”. O que se tem ao longo das 15 faixas, no entanto, mais parece ser uma síntese de todas as fases da carreira de Arnaldo.

Ao mesmo tempo que o repertório contempla uma música como “Ah, Mas Assim Vai Ser Difícil”, que o reconecta sem rodeios com os Titãs de “Cabeça Dinossauro” e dali em diante, outras, como “O Fogo”, que abre o disco, “Azul Vazio”, que escreveu com sua mulher, a artista plástica Márcia Xavier, ou “Acalanto Para Acordar”, também feita com ela, carregam uma serenidade e um lirismo que pontuam sua discografia, mas nunca foram exatamente a marca registrada de sua obra.

Entre essas duas extremidades – a do rock quase punk dos anos 1980 e 1990 e a do Arnaldo que, a partir de “Saiba”, de 2004, parece caminhar para o tempo da delicadeza –, estão compreendidos todos os elementos com os quais ele vem trabalhando ao longo da carreira: a poesia, ora aguda e cerebral, ora lúdica e bem-humorada, as melodias cativantes, a despeito de inusuais, e os arranjos concebidos sempre de forma a tentar fugir do óbvio.

Contribuem para isso, naturalmente, os músicos com os quais Arnaldo se cerca. Estão presentes em “Disco” os fiéis escudeiros de sempre, Edgard Scandurra, Curumin, Marcelo Jeneci, Chico Salém e Betão Aguiar. A eles, soma-se um time estelar de participações especiais e músicos convidados, cada um conferindo um brilho próprio à faixa na qual contribui. Bom exemplo é “Trato”, parceria de Arnaldo com Céu e Hyldon que conta com a presença de ambos nos vocais de apoio. A faixa, a única que talvez não se insira numa ideia de síntese da carreira de Arnaldo, tem uma levada soul music matadora que descende muito mais do universo de Hyldon.

A suavidade impressa em temas como “O Fogo”, “Acalanto Para Acordar” e “Morro, Amor”, feita em parceria com Caetano Veloso, pode ser creditada, em boa medida, ao piano de Daniel Jobim e ao violão de Cezar Mendes, presentes nas três. Já em “Vá Trabalhar”, composição que Arnaldo assina sozinho e que também figura entre os pontos altos de “Disco”, é a guitarra transbordante de Fernando Catatau que serve de farol. Pupillo, da Nação Zumbi, e Curumin juntam forças em prol da massa percussiva de “Oxalá Chegar”, que conta com a participação de Mônica Salmaso fazendo vocalises. E assim o álbum segue elegante, entre o quente e o frio, entre passado, presente e futuro, reafirmando a verve e as potencialidades de seu autor e mirando novos horizontes.

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