Mano Brown é mais conhecido pela seriedade (para não dizer marra) que sempre aplicou à sua música, notadamente ao grupo Racionais MC’s, o mais importante do rap nacional. Para o Palco Sunset, do Rock in Rio, o cantor de 49 anos vestiu calça e jaqueta brancas e uniu sua big band , a Boogie Naipe, na missão de preservar e atualizar o funk — não o gênero que domina as ondas do streaming brasileiro atualmente, mas seu antepassado americano, filho mais dançante e safadinho do soul.
Comandando guitarras (nas mãos de Duani e Max de Castro, figuras importantes da música paulista), sopros e cantores (o parceiro Lino Krizz é o responsável pelas melodias que Brown não alcança), MB começou com seu próprio repertório, de músicas como “Gangsta boogie”, “Dance dance dance” e “Flor do gueto”. Levadas e arranjos perfeitos, climão de pista de dança no motel… mas faltavam canções mais bem construídas. Quando o rap entrava sobre as bases, dava-se a combinação ideal, mas isso pouco aconteceu.
Começou então o desfile de figuras históricas do soul e do funk, com a entrada do baiano Hyldon (que já tinha se apresentado no Sunset em 2017, com a cantora Ana Cañas), que cantou “Foi num baile black” com Brown. Nem todo mundo no (grande) público sabia de quem se tratava, mas ficou clara a importância do baixinho de 68 anos. Em seguida veio uma surpresa ainda maior: Carlos Dafé, 71 anos, lenda do samba-soul carioca, apareceu para cantar “Nova Jerusalém”. O conteúdo da aula de Soul Brasileiro I estava completo – com o bônus de Max de Castro, filho de Wilson Simonal, na banda, ali ao lado.
Para terminar, a surpresa prevista: luxuoso em uma roupa dourada, Bootsy Collins entrou ao palco para cantar “Mothership connection”, “We want the funk”, do lendário grupo Parliament, e “I’d rather be with you”, de seu próprio repertório. Mesmo sem o contrabaixo, instrumento com o qual pagou as contas praticamente a vida toda, o músico de 67 anos deixou claro seu lugar na realeza do funk. Nota 10 na prova para o professor Mano Brown.
Fonte: O Globo Cultura