Boogie Naipe, cheio de convidados especiais, é sucesso de Mano Brown em SP | billboard

boogie-naipe
 
Quando Mano Brown anunciou, depois de quase dez anos de trabalho sem alarde, seu álbum solo, muito se falou sobre uma postura diferente nas letras e no palco. No lugar da sisudez e da crítica social das letras dos Racionais, o clima e o ambiente das festas black dos anos 1970 e 1980 foi traduzido num disco que une essas referências mais antigas com uma sonoridade atual e conectada com o que o povo ouve hoje em dia. Faltava transpor esse ambiente do disco para o palco.
 
Mano Brown já havia colocado músicas de Boogie Naipe em alguns shows, mas nunca com umaestrutura tão grande de banda e convidados. No lugar da dupla DJ/MC, estrutura básica do rap, uma banda com mais de dez integrantes botou o baile para funcionar, capitaneada pelo guitarrista Duani. O vocalista Lino Krizz, principal voz do álbum, também é figura importante no palco.
 
Da mesma forma que o álbum junta referências mais antigas com sonoridades mais novas, os convidados de Mano Brown também levaram esse diálogo ao palco. Hyldon e Carlos Dafé, nomes fundamentais da música negra brasileira, marcaram presença com participações pontuais e para mostrar um pouco da origem de todo aquele som que estava sendo tocado. Max de Castro e Simoninha, que têm a música negra brasileira no DNA, também levaram suas contribuições – Max emulou Prince com solos de guitarra, enquanto Simoninha encarnou o MC/crooner responsável por abrir a festa. Ed Mota, outro com DNA musical, arrepiou a plateia ao trazer vocais de Marvin Gaye para o palco. Ellen Oléria, que também contribuiu bastante inclusive para a composição de algumas faixas do disco, brilhou.
 
Seu Jorge rendeu um momento emocionante na noite. Como já faz nos Racionais, Mano Brown inseriu um detalhe mais teatral no espetáculo. Qualquer pessoa que frequente ou seja de bairros periféricos, sabe que o salão de cabeleireiro é um ponto de encontro importante (quem não sabe, pode ver alguns exemplos no cinema, como no clássico Príncipe Em Nova York, com Eddie Murphy). Mano Brown chegou à barbearia montada no canto do palco. Ao redor do espelho, imagens de figuras importantes com Malcom X e Bob Marley. Enquanto Brown citava alguns desses nomes, conversava com seu barbeiro, Josias, que levou a encenação a sério e fez um trabalho rápido no cabelo do rapper. O clima de fim de show já estava no ar e Seu Jorge, emocionado, sentiu vontade de falar sobre a importância do trabalho de Brown, do seu rap e das suas letras. “Com lágrimas nos olhos eu falo isso pra você, irmão!”, disse Seu Jorge. É conhecido o respeito do cantor em relação ao trabalho dos Racionais MC’s.
 
Dizer que o clima no palco era de festa não é uma redundância. Mano Brown estava visivelmente feliz por estar ali apresentando seu trabalho ao lado de tantos amigos. Não foi raro ver Brown sorrindo, especialmente quando o show foi se aproximando do fim. Já sem se preocupar com roteiro, um relaxado Mano Brown terminou sua festa com toda a banda e convidados novamente – o que quase preencheu toda a frente do palco. Agora Mano Brown segue com seu Boogie Naipe para o festival Bananada, em Goiânia (14/05), e para o Circo Voador, no Rio de Janeiro (20/05).
 
Por Marcos Lauro
Fonte: www.billboard.com.br