O Soul verde-amarelo de Hyldon (Jornal de Brasília)

 

Compositor dos sucessos setentistas Sombra de uma Árvore, As Dores do Mundo e Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, guitarrista da Jovem Guarda e parceiro de Tim Maia e Cassiano, Hyldon ajudou a asfaltar a black music nacional, mas não vive de nostalgia. Em 2003, voltou a colocar o pé na estrada, flertou com a música eletrônica e não parou mais. Hoje vive no YouTube, em programas de TV por assinatura, nas redes sociais Twitter e Facebook e toca projetos e parcerias com a Nação Zumbi, Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro e Mano Brown.

“Agora mesmo recebi um convite para participar da festa do Multishow. Essa minha vida de cult está indo muito bem”, brinca o músico baiano radicado no Rio, que faz seu primeiro show em Brasília, do alto de seus 60 anos, amanhã, no Feitiço Mineiro. “Já estive fazendo show na Caixa, com o Arnaud Rodrigues, mas isso tem mais de 20 anos. Em 1975, cantei As Dores do Mundo num show promovido pelo Silvio Santos aí na cidade, mas este agora é o que considero o primeiro mesmo. E vou levando três músicos da pesadíssima comigo”, conta, por telefone, ao Clicabrasilia.

Com seu mais recente álbum, Soul Brasileiro (2009), Hyldon busca novos caminhos dentro do eclético cardápio cultural verde-amarelo. “Minha música cabe em várias coisas. Já ouvi gente tocar Na Rua, Na Chuva de todo o jeito. O Richard Clayderman fez um arranjo mais clássico, o Da Gama, que era do Cidade Negra, fez uma versão reggae… adoro eletrônica, samba, chorinho, instrumental. Mas como tive influência forte do soul (Stevie Wonder, Marvin Gaye) na minha adolescência, ficou o sotaque”. Sotaque este genuinamente brasileiro, que o difere dos seus velhos camaradas Tim e Cassiano: “Não falo ‘baby’, nem ‘oh, yeah’”, diz.

Esse conceito fica evidente em Soul Brasileiro, disco que ganha em breve edição extra, repaginada, mais elétrica e dançante, e cujo repertório entra no set list a ser apresentado no Feitiço Mineiro, amanhã, ao lado de outras marcantes canções clássicas, como Acontecimento e Estão Dizendo Por Aí. “Circulo legal por todas as camadas da música e não tenho preconceitos. O soul brasileiro é uma brincadeira sobre isso. A gente vive em um país muito miscigenado”, justifica.

Hyldon gosta de descobrir coisas novas. E não à toa adere às novas tecnologias e redes sociais. Mas o sentimento é o mesmo dos tempos de outrora. “Hoje tá tudo no marketing, com 30 bandas por segundo. Ainda estou naquele lance de fazer por amor. Isso trago da minha época, mas não estou parado no tempo. E a internet permite isso”, reflete.

 

Guilherme Lobão
globao@jornaldebrasilia.com.br

Foto: César Oiticica/divulgação

 

Fonte:Jornal de Brasília