A extravagante guia da floresta

 

Silvia. “Misto de Branca de Neve com fada e cigarra” Após um trabalho com atmosfera de cabaré, Silvia Machete se imagina em meio a uma floresta. Na capa de Extravaganza(Coqueiro Verde), aparecem só suas pernas – o tronco está coberto por um arbusto e flores. “Meu show é extravagante, a sonoridade é extravagante, tem marimba, percussões, naipes…”, ela justifica o título. “Não faria um show convencional, não consigo. Meu show é um espetáculo, não é um showzinho, é um showzão.”

Para a cantora, compositora e performer carioca, ainda pouco conhecida, mas que nos últimos quatro anos lançou os relativamente badalados Bomb of Love – Música Safada Para Corações Românticos e Eu Não Sou Nenhuma Santa, música e imagem (cenário, iluminação, figurino) sempre vêm juntas.

A performance com bambolês rodados na cintura ficou para trás, mas ela ainda não decidiu se vai continuar convidando alguém da plateia para chupar seu dedão de seu pé – um dos pontos altos do DVD Eu Não Sou Nenhuma Santa. Não, a moça de fala serena e cabelos agora curtíssimos não tem medo do ridículo e não tergiversa. Extravaganza é aberto por Noite Torta, de Itamar Assumpção, que fala de frutas numa natureza morta. Nas letras que se seguem, muitas palavras que aludem a paixão, amor, aventura, sensualidade. No CD, Silvia tem a companhia dos parceiros Erasmo Carlos (Feminino Frágil), Hyldon (Coração Valente), Rubinho Jacobina (Vou Pra Rua) e Márcio Pombo (Meu Carnaval).

De Jorge Mautner e Nelson Jacobina, regravou a divertida Manjar de Reis – “queria muito ter escrito os versos “Quero que sem timidez/ Tu chupes picolés””, brinca. Tropical Extravaganza, de seu guitarrista e companheiro antigo Fabiano Krieger, tem o sabor latino que a capa sugere, como Underneath The Mango Tree (Monty Norman); do repertório de Mercedes Sosa, ela traduziu Como La Cigarra (María Elena Walsh). Silvia faz “música pra pensar/ música pra chapar/ e quando acordar/ não pensar em nada”, como diz a letra malcomportada de Fim de Festa, também de Krieger. Mas também é para se dançar e para se divertir sem culpas.

Guia de floresta. Em São Paulo, o lançamento foi no Auditório do Ibirapuera, com direito a quatro figurinos, coreografias, acrobacias e os músicos vestidos de bichinhos, além de uma entrada com as folhagens da capa do CD. No Rio, fez outro show numa área de floresta: no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico. “Eu sou a guia dessa floresta. É um misto de Branca de Neve com fada e cigarra”, anuncia Silvia, que teve uma trajetória bem inusitada até aqui: filha de família tradicional do Rio, artista circense, foi para Paris estudar francês e acabou em Nova York.

Como acrobata, fez dupla com o ex-marido e se apresentou pelo mundo, até que, depois de 12 anos fora, decidiu que queria ser cantora, e no Brasil. Voltou para o Rio, onde nasceu, há três anos. Aos 34 anos, vive num apartamento no coração do Leblon, mas quer ir para uma casa no Humaitá, bairro mais tranquilo, onde pretende montar um estúdio e um ateliê.

“Vai ser a casa da minha vida, estou procurando desde que voltei”, sonha. “Mas sinto falta da vida cultural de Paris e de Nova York, da diversidade. O Rio é muito devagar, é um balneário. Eu penso em São Paulo, mas lá tem os problemas de cidade grande sem os benefícios.”

 

Fonte: O Estado de S.Paulo