Matéria: UOL
Sorvetes e passeios de bicicleta. Domingos de verão e tardes na praia. Sombras de árvores e pássaros cantando. Beija-flores e casas de sapê. Talvez o simpático bucolismo dos temas tenha contribuído: 40 anos depois, continuam presentes várias músicas do álbum de estreia de Hyldon, “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”. Lançado em 1975, o disco encontrou sucesso com faixas como “As Dores do Mundo”, “Vamos Passear de Bicicleta?”, “Sábado e Domingo”, “Meu Patuá” e a faixa-título.
Ao lado de Tim Maia e Cassiano, Hyldon é tido como um dos elementos fundamentais da criação de uma genuína soul music à brasileira. Cruzando inspirações brasileiras com o R&B da época, deram origem a um gênero de personalidade própria. “Meu primeiro instrumento foi um tambor, quando eu tinha 3 anos de idade”, lembra Hyldon. “Gosto muito de ritmo, quando descobri a parada da soul o que me atraiu foi exatamente isso. Fiquei vidrado em Ray Charles, Marvin Gaye, Stevie Wonder. Quando conheci o Cassiano em 1969, ele estava na mesma vibe, então a gente começou a tocar balanço, soul.” Quando seu primeiro disco foi lançado, Hyldon já era figura importante no cenário. Além de tocar guitarra com Toni Tornado e Wilson Simonal, era produtor de Erasmo Carlos e Odair José e tinha canções gravadas por Wanderléa e Tim Maia.
“Um dia no estúdio conheci o Tim, apresentado pelo irmão do Cassiano”, lembra ele. “A gente foi numa sala de espera, o Tim estava com o violão e tocou ‘Jurema’ para mim. O quartinho chegou a tremer com a voz dele. Falei, ‘não preciso nem mais ir no Harlem, o Harlem está aqui’.” “Mas não sou preso à coisa da soul music”, ressalta. “Gosto de inventar.”
Todo gravado com acompanhamento do trio Azymuth (mais cordas, sopros, percussões, vozes), a primeira faixa do álbum já apresentava carta de intenções: “Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba”. “Não me preparei para ser primeiro lugar no Brasil, ia pela emoção”, lembra. “Minha ambição era não me tornar outra pessoa, porque via as pessoas se modificarem quando faziam sucesso. Isso contribuiu para o disco ter esse lirismo, romântico, sem maldade. Com uma pureza que só acontece em primeiro disco.”