Luis Vagner, o guitarreiro que foi do twist ao samba-rock para animar o terreiro brasileiro
Morte do artista, aos 73 anos, joga luz sobre trajetória que inclui conversão ao reggae na década de 1980.
Edu Defferrari / Divulgação
♪ OBITUÁRIO – “Luis Wagner guitarreiro / Liga essa guitarra / E anima o terreiro”, pediu Jorge Ben Jor nos versos iniciais de Luiz Wagner guitarreiro, música com que, há 40 anos, fechou o álbum Bem-vinda amizade (1981) com saudação ao colega guitarrista. Amigo cujo segundo nome era grafado com v e não com w, como exposto na letra e no título da composição de Ben Jor, com quem Luis Vagner saiu em turnê pelo Brasil e pelo mundo, naquele ano de 1981, como baixista da Banda do Zé Pretinho.
A homenagem de Jorge Ben Jor – um dos inventores do suingue nacional – dá bem a medida da importância do cantor, compositor e guitarrista gaúcho Luis Vagner Dutra Lopes (28 de abril de 1948 – 9 de maio de 2021) na música brasileira.
Luis Vagner é nome associado primordialmente ao samba-rock, gênero musical do qual foi um dos pioneiros criadores e difusores no alvorecer dos anos 1970 ao lado do próprio Ben Jor.
Mas é preciso ressaltar que o guitarreio nunca se restringiu ao gênero com o qual fez nome na música brasileira dos anos 1970 ao lançar os álbuns Simples (1974), Coisas e lousas (1975), Luis Vagner (1976) e Fusão das raças (1979).
O artista foi do twist ao samba-rock, passando pelo reggae e por “outras milongas mais”, como enfatizou no longo título do álbum de músicas inéditas que lançou em 2020, retomando carreira fonográfica que havia sido interrompida após a edição do álbum Swingante (2001), apresentado há quase 20 anos.
Luis Vagner deixa legado concentrado em discos dos anos 1970 e 1980 — Foto: Edu Defferrari / Divulgação
Natural de Bagé (RS), Luis Vagner começou a trajetória profissional em 1963, em Porto Alegre (RS), como guitarrista solo do grupo Os Jetsons. De 1963 a 1965, Vagner tocou com os Jetsons alguns gêneros da pré-história do pop brasileiro como o twist e o rock’n’roll.
A partir de 1966, já na cidade de São Paulo (SP), o guitarrista integrou o grupo Os Brasas, em sintonia com o som propagado pelo reino da Jovem Guarda. Os Brasas foi a banda que apoiou, em discos e shows, cantores como Sérgio Reis e Vanusa (1947 – 2020).
Contudo, Luis Vagner somente começou a delinear uma assinatura artística própria na música brasileira a partir dos anos 1970, década do nascimento e apogeu do samba-rock.
O primeiro single do artista foi gravado em 1970 com as músicas Moro no fim da rua e Viagem para o sul, sendo sucedido por outro single editado em 1971. Já o primeiro sucesso como compositor, Como?, foi propagado em 1972 na voz do cantor Paulo Diniz.
Luis Vagner também registrou Como? em 1972 para single editado em 1973 pela mesma gravadora, Chantecler, que lançou o primeiro álbum do guitarrista, o já mencionado Simples.
Capa do álbum ‘Fusão das raças’, de Luis Wagner — Foto: Reprodução
Embora tenha chegado a lançar álbum pela gravadora multinacional Philips, Fusão das raças (1979), Luís Vagner sempre transitou pelas margens do mercado fonográfico, gravando por companhias nacionais de menor alcance, como a Copacabana, por onde editou os álbuns Pelo amor do povo novo (1982), Luis Vagner ao vivo (1986) e Conscientização (1988).
A propósito, o disco ao vivo e o álbum Conscientização já flagraram Luis Vagner convertido ao rastafarianismo e ao reggae, gênero musical que passou a ser recorrente na discografia do artista ao lado do samba-rock.
A partir dos anos 1990, a discografia de Luis Vagner foi ficando cada vez mais espaçada, mas, aos poucos, o artista foi também sendo cada vez mais reverenciado como um dos pioneiros do samba-rock.
A reverência é legítima, embora a trajetória de Luis Vagner na música tenha sido marcada pela diversidade rítmica com que o guitarreiro animou o terreiro brasileiro pela habilidade de cair no suingue com singularidade.
Fonte: G1 Pop&Arte