De terno branco – na estica – Mano Brown subiu pela primeira vez ao palco do Rock In Rio no início da noite desta sexta-feira, 27. Dado que Brown é um dos nomes mais importantes da música brasileira é uma constatação infeliz pensar que o festival levou 20 edições para colocar um microfone em sua mão. Ele apresentou o show do disco Boogie Naipe, lançado em dezembro de 2016, com sua mistura única de soul e rap.
O convidado do show foi o lendário baixista americano Bootsy Collins, referência do funk soul dos anos 1970.
Antes disso. É sempre curioso quando um dos roadies do Boogie Naipe entra no palco com uma mesa de bar e logo em seguida deposita ali uma garrafa cheia de uísque.
A vibe do show não guarda nenhuma semelhança com o caráter explosivo dos shows do Racionais, o grupo de hip hop que Brown fundou com três amigos em São Paulo para nacionalizar o gênero no Brasil. No Boogie Naipe, Brown é um homem romântico que aprendeu a defender os direitos das mulheres, e não abriu mão de dedicar a elas uma devoção inteligente. Também por isso, o músico não tocou no assunto “política” no palco, como sempre é esperado dele – talvez mais ainda depois das eleições de 2018, quando ele se envolveu ativamente.
No palco, Max de Castro faz as guitarras base, Hyldon sobe num momento de reverência à ala soul da MPB, e em certo momento Brown chama Bootsy Collins e uma pequena mágica acontece, porque se o Boogie Naipe existe é, em parte, devido a Bootsy e sua “turma”, gente como James Brown e o Parliament Funkadelic.
A parceria no palco começa com Mothership Connection, do álbum de mesmo nome do Parliament de 1975. É nessa hora que a excelente banda de Mano Brown, sempre comandada por um Lino Krizz de voz impecável e jaqueta de couro, mostra que é uma das melhores do circuito de shows no Brasil.
“Olha para esse cara, pensa no Snoop Dogg e diz quem copiou quem”, disse Brown, em referência ao estilo extravagante do americano no palco: óculos com glitter no formato de estrela e um conjunto amarela ultraestampado. No fim do show, uma versão de Give Up the Funk (Tear the Roof off the Sucker), um dos refrões mais memoráveis da música popular nos anos 1970: “we want the funk”. é a canção escolhida para acabar tudo – e o espetáculo soul termina interrompido pelo início da apresentação de Bebe Rexha no Palco Mundo.
Fonte: Estadão