Em 1971, Antônio Viana Gomes já era Toni Tornado – ainda com o ‘i’ no lugar do ‘y’ que adotaria no futuro – quando lançou o primeiro álbum. O LP Toni Tornado chegou ao mercado no rastro da vitória do artista paulista na sexta edição do Festival Internacional da Canção, realizada em 1970.
O cantor vencera o penúltimo FIC ao seguir, com a adesão do Trio Ternura, o trilho soul da música BR-3 (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, 1970), composição influenciada pelo som funky soul do norte-americano James Brown (1933 – 2006), ídolo de Tornado.
Relançado no formato original de LP neste mês de junho de 2019, dentro da série Clássicos em vinil, o álbum consolidou Tornado como uma das vozes nacionais da black music que começava a ganhar as paradas do Brasil a reboque do fenomenal sucesso de Tim Maia (1942 –1998) naquele ano de 1970.
O disco inseriu Tornado no movimento nacional de música negra, ao qual o cantor – atualmente com 89 anos, completados em maio – deu voz com conhecimento de causa. Até porque, nos anos 1960, o artista passara temporada nos Estados Unidos, mais especificamente no Harlem, em Nova York, onde conheceu os sons e o poder que emanava da população negra naquela década de luta por direitos civis e igualdade entre brancos e negros.
No Brasil, ao gravar o disco produzido por Milton Miranda com arranjos orquestrais de Paulo Moura (1932 – 2010) e Waltel Branco (1929 – 2018), Tornado registrou músicas de autoria de compositores ligados ao movimento musical negro que crescia no Brasil. Entre estas músicas, há Me libertei (Frankie Adriano e Tony Bizaarro), O repórter informou (Hyldon) e Uma vida (Dom Salvador e Arnoldo Medeiros).
No auge da parceria, Roberto Carlos e Erasmo Carlos – compositores então muito influenciados pela black music – presentearam Tornado com duas músicas inéditas, Não lhe quero mais e Papai não foi esse o mundo que você falou, ambas nunca gravadas por nenhum dos dois autores.
Na sequência desse disco editado pela gravadora Odeon em 1971, Tornado lançou outro álbum em 1972 sem conseguir evitar que a carreira fonográfica perdesse pulso. Tempos depois, já como Tony Tornado, o artista voltaria aos holofotes como ator de novelas e programas de humor da TV Globo.
Estes discos, em especial o ora relançado álbum de 1971, são registros viçosos de um artista que passou pela música brasileira com a força de um tornado contido por uma indústria fonográfica que, naquela época, estava despreparada para propagar e desenvolver no Brasil a música negra decalcada da matriz norte-americana.
Música que contagiava um público alheio aos modismos e imperativos mercadológicos. Tanto que o movimento Black Rio surgiria logo em seguida à margem dessa indústria, que então foi correr atrás do prejuízo.