Nesse mês de julho, a Universal Music relança “Deus, A Natureza E A Música”, segundo álbum de Hyldon, de 1976, no formato de vinil.
O disco pode ser adquirido por meio do Clube do Vinil, uma assinatura em que o usuário recebe um vinil por mês.
Essa reedição de “Deus, A Natureza E A Música” tem pôster colorido de um lado, letras e créditos em P&B do outro lado, além de encarte interno e um folheto com informações de contexto da obra. O texto é assinado por Tárik de Souza e a curadoria do Clube do Vinil é de Charles Gavin.
Para mais informações, acesse www.clubedovinil.com.
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Leia abaixo o texto do jornalista Tárik de Souza que acompanha o disco:
Segundo solo, “Deus, a natureza e a música”, põe a prova o talento múltiplo de Hyldon
Os anos 1970 trouxeram à tona os primeiros ídolos do Soul Brasil, que prefaciavam a música preta brasileira. Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado, Gerson King Combo, Paulo Diniz emergiram com força e popularidade. Após uma estreia precoce como hitmaker aos 17 anos, em 1968, e composições gravadas por Jerry Adriani e Wanderley Cardoso, mais produções bem sucedidas (Erasmo Carlos, Odair José, Wanderléia, Diana), músico de estúdio, que aprendeu as manhas com o primo Pedrinho da Luz, (The Fevers), o baiano Hyldon disse a que veio no setor, logo na estreia solo, em 1975. Desembarcou com o estrondo nacional da balada soul “Na rua, na chuva na fazenda”, (“Casinha de sapê”), faixa título do LP, que trazia ainda dois outros mega sucessos, “As dores do mundo” e “Na sombra de uma árvore”.
É este bem sucedido artista que elabora o LP seguinte, “Deus a natureza e a música” (1976), de faixa título emoldurada pela Orquestra de Cordas do Theatro Municipal carioca, regida pelo maestro Waltel Branco. No afiado elenco instrumental, além do trio Azymuth (José Roberto Bertrami, teclados, Alex Malheiros, baixo, Mamão, bateria) há integrantes da banda Black Rio lançada neste ano (Oberdan Magalhães, sax tenor, Cristóvão Bastos, teclados, Luiz Carlos, bateria, Claudio Stevenson, guitarra), e ases diversos da MPB.
Como Paulinho Trompete, cujos arabescos ao flugelhorn emprestam ares jazzísticos à “Primeira pessoa do singular”, preciosa parceria de Hyldon com Caetano Veloso. “Você não sai do singular/ e só faz conta de somar/ de dividir não quer saber/você precisa acreditar/ tem muita estrada pela frente”, sugere a canção. Ela sucede a um funk/dance grudento, “Estrada errada”, do titular do disco. Pilota o órgão Hammond, Robson Jorge, outro expoente do Soul Brasil.
“Homem pássaro”, com batidão funk revirado, traz o trompete wah-wah do especialista Marcio Montarroyos. Hyldon dispensa ornamentos ao entoar a cálida “Adoração”, solitário ao violão, com vocal de Solange Rosa. Na sequência, “Cor de maçã”, preserva o clima de enlevo afetivo, distendido na espraiada “Búzios”, entre funk e balada.
Hyldon também se aventura no pique nordestino de “Morte doce”, com algo de xaxado estilizado. Ou nos ecos de aboios, do recorrente “O boiadeiro”, onde ele próprio resfolega na sanfona. Fustigada por guitarras, a aventureira “Sheila Guarany” desenrola uma ópera rock em três fases: “O cotidiano”, as peripécias da personagem “nas histórias de Alice Maravilhosa”, e sua volta à “Realidade”.
A maior surpresa vem no final. Pontuado por baixo de Rubão Sabino, órgão Hammond de Carlos Dafé – outros dois ases do Soul Brasil – piano Fender Rhodes e arranjo de cordas de Cristóvão Bastos, Hyldon transporta para a atmosfera funk/soul a megaclássica “Pra dizer adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto. Coisa de artífice que domina com maestria não apenas seu segmento, mas a diversidade eclética da MPB. (Tárik de Souza)