Hyldon @ SESC Belenzinho – SP

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Embora não estivesse escrito no folheto do espetáculo, o show comemorativo aos 40 anos ao lançamento do álbum Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, que o soulman Hyldon apresentou na sexta (9) e sábado (10) passados no Sesc Belenzinho, era também uma espécie de acerto de contas. Não só para com o seu lugar na memória do público, mas também como uma oportunidade para mostrar que a obra do cantor e compositor carioca é muito mais do que “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” e “As Dores do Mundo”, hits sobre-humanos incluídos no álbum e que até hoje servem de cartão de visita para Hyldon.

Na primeira das duas noites, o show começou pontualmente às 21h. Para um público com idade média entre 30 e 50 anos, Hyldon apresentou todas as canções do álbum mais um bis com outras canções novas e velhas, sempre com uma visível expressão de contentamento no rosto. Mesmo faixas menos celebradas como “Meu Patuá” ou “Vida Engraçada”, foram interpretadas como a gana de quem tocava para um estádio lotado. E esse, ironicamente, foi o único senão do show.

Na Rua… é um dos mais belos e elegantes discos da música brasileira. Com uma produção delicada e timbres impecáveis, é a perfeita tradução musical de um fim de tarde preguiçoso visto pela janela, deitado numa rede. Ao vivo e em um palco de teatro, pelas mãos da ótima e jovem banda de Hyldon, algumas faixas do disco ganharam uma desnecessária voltagem extra, com direito a uma pegada quase roqueira que descaracterizou os arranjos originais e delicados de “Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba” e “Vamos Passear de Bicicleta?”. Sem falar nos momentos solo reservados para cada um dos sete (!) músicos.

É bobagem esperar que um show soe exatamente igual a um disco gravado 40 anos antes? Sim, totalmente. Mas também é justo lamentar uma oportunidade perdida de introduzir uma visão mais ampla da obra de Hyldon tanto para um público que só o conhece pelos hits quanto para neófitos? Com certeza.

É provável que a ausência de saudosismo e “desrespeito” com a própria obra parta do próprio Hyldon que, diga-se, nunca deixou de produzir. Romances Urbanos, seu disco mais recente, tem 12 canções inéditas e autorais, sem nenhum cover ou regravação, o que já é um grande feito comparado com o que outros artistas com tempo de carreira equivalente andam fazendo ou deixando de fazer.

Quarenta anos depois da casinha de sapê, o que Hyldon mais quer é seguir em frente, continuar em movimento. Olhar para trás, nesse caso, é uma festa, não uma obrigação.

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