Hyldon lança o álbum virtual Romances Urbanos. Comparticipação de colegas como Arnaldo Antunes, Céu e Mano Brown, o lançamento tem ainda Serjão Loroza em uma faixa que lembra muito TimMaia, velho amigo do soulman.
Arnaldo Antunes, Mano Brown e Céu estão no novo álbum de Hyldon
por Roberto Midlej
Eleonora, Gioconda, Eliane… Essas e muitas outras musas de nomes rebuscados, quase barrocos, já inspiraram o soulman Hyldon, autor da clássica Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê). Mas, há 29 anos, sua musa é Zoé,gaúcha com quem o baiano de 62 anos é casado e com quem vive no Rio de Janeiro. Tantas paixões renderam muitas canções românticas, como as do seu mais novo álbum, Romances Urbanos (DPA/Sony), disponível apenas digitalmente no iTunes.
Mesmo longe do grande mercado, Hyldon continua prestigiado entre os colegas. Não é à toa que o novo álbum tem a participação de Céu, Zeca Baleiro, Mano Brown, Arnaldo Antunes e Jorge Vercillo.
No álbum anterior, Soul Brasileiro (2008), não foi diferente. Depois de 18 anos sem gravar inéditas, contou coma presença de Carlinhos Brown, Frejat e Chico Buarque.
PARCEIROS
Hyldon justifica sua preferência por trabalhar com outros artistas: “As parcerias acabam nos pressionando a concluir o trabalho rapidamente. Quando a gente está trabalhando sozinho, vai adiando, adiando…”. Esses amigos tiveram um papel fundamental na carreira do artista. Entre as amizades mais ilustres está a do mestre Tim Maia (1942-1998), clara referência na faixa Festa do Síndico, em Romances Urbanos. A composição é de Hyldon com Andreia Santiago e tem a participação de Serjão Loroza. Impossível ouvi-la e não lembrar do velho Tim. Ao contrário de boa parte das canções, ótimas baladas, essa se destaca por realçar os grandes momentos dançantes do TimMaia dos anos 70. Quando lembra do amigo “Síndico”, Hyldon se entusiasma e dispara a falar, recordando o dia em que se conheceram em um estúdio: “O Tim estava com a voz no auge e, quando cantou Jurema para mim, o estúdio só faltou tremer. Ele tinha uma maneira de cantar muito parecida com a dos negros americanos, porque tinha morado nos EUA e assimilou a cultura soul”.
Naquele mesmo dia, em 1970,Hyldon arriscou mostrar a Tim Maia uma composição sua, o blues Gioconda, inspirado em uma de suas primeiras musas. Mas ficou meio decepcionado coma resposta do futuro amigo: “Meu filho, essa música com esse nome não vai render. Bota aí Cristina, Regina…”.
Tim jamais gravou a canção, mas Jerry Adriani, muito popular durante a Jovem Guarda, registrou-a no mesmo ano, no LP Jerry.
RAULZITO
Apesar da ducha de água fria de TimMaia, Hyldon tomou coragem e mostrou a música a Raul Seixas, que na época era ainda produtor da gravadora CBS: “Mostrei uns rocks meus, mas Raul gostou foi de Gioconda. Jerry se amarrou na música, que ganhou um solo de Renato, da Renato e Seus Blue Caps”.
Impossível falar de Gioconda e não se lembrar da Bahia, afinal foi em Madre de Deus, a poucos quilômetros de Salvador, que Hyldon encontrou a paixão que inspirou o blues – durante as férias escolares. Ele conheceu a mineira de Juiz de Fora em 1967, os 15 anos e, entre idas e vindas, curtiram a paixão até 1973.
Foi também nessa época que o cantor, morando em Niterói, no Rio de Janeiro, decidiu ficar por lá quando a mãe voltou para a Bahia. Preocupada com o filho adolescente, ela impôs uma condição: Hyldon só permaneceria no Rio de Janeiro se fosse morar na capital do estado com Pedrinho, primo mais velho e guitarrista da The Fevers, banda muito requisitada que já havia tocado com artistas do primeiro time nacional e conhecidos por sua exigência, como Roberto Carlos, Simonal e Jorge Ben.
Louco para inserir-se no mercado musical, Hyldon aceitou, convenientemente, a exigência da mãe. E o primo Pedrinho,que já lhe havia presenteado com uma guitarra, foi responsável por sua estreia profissional.
FEVERS
“Um dia eu fui com os Fevers a uma gravação deles e o Almir, um dos guitarristas, não pôde comparecer. Aí, alguém
sugeriu que eu o substituísse”, lembra.O desempenho foi tão bom que Hyldon acabou tornando-se guitarrista reserva
da banda. Acabou passando quase três anos no posto.
Já circulando bem no meio musical, ousou divulgar suas composições e passou a ser gravado por Wanderley Cardoso, Gerson King Combo, Tony Tornado, Rosa Maria, The Fevers, entre outros mestres.
Depois que deixou a banda do primo, Hyldon acompanhou Os Diagonais em uma turnê pela Bahia. Foi naquele grupo que conheceu mais um parceiro fundamental, Cassiano, autor e intérprete de duas músicas que estourariam mais tarde: A Lua e Eu e Coleção.
“Fiz uma turnê com a banda e fui à Bahia. Foi na volta daquela viagem que conheci TimMaia, quando o Camarão, da Diagonais, me apresentou a ele”, lembra-se Hyldon.
Comtantas experiências e a aprovação de artistas muito importantes, ele começou a pensar em gravar seu próprio disco, mas, depois de algumas negativas das gravadoras, decidiu experimentar a carreira de produtor musical.
ESTREIA
Foi na Polygram, hoje Universal, que Hyldon participou da produção de discos de artistas populares como Wanderléa, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Luís Melodia e Odair José.
Durante uma das gravações, em 1973, aproveitou uma brecha para, finalmente, produzir o seu primeiro compacto. Ali estava o registro de Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê), que começou a ser tocada nas rádios de São Paulo e do Rio e foi se espalhando para outras cidades.
Dois anos depois, viria um outro single, As Dores do Mundo. Juntas, as duas integraram o repertório do primeiro álbum de Hyldon, lançado em 1975 e batizado como nome do cantor.
Estourado nas rádios e nas lojas, Hyldon resolveu desfrutar do sucesso e foi aos Estados Unidos para ouvir, de perto, seus grandes ídolos: “Me programei para ficar 15 dias, mas fui ficando, ficando… E a viagem acabou durando uns 8 meses. Fui também ao México e ao Canadá. Ouvi tanta coisa boa que acabei levando um choque cultural”.
Morando em Nova York, Hyldon foi a shows inesquecíveis: The Temptations, Marvin Gaye, Barry White e muita gente grande da black music. Ouvindo tanta coisa boa, era natural que Hyldon fizesse um som de responsa como esse apresentado em Romances Urbanos, afinal, como lembra o próprio soulman, “ser um bom ouvinte é necessário pra ser um bommúsico”.